sexta-feira, 7 de junho de 2013


 Estância, em Sergipe, é a capital do buscapé e da espada de São João. 





Espada e buscapé, na verdade, são armas pirotécnicas fabricadas para a guerra dos fogos. Mas a coragem de muitos desses aventureiros acaba no hospital. Se a espada queima, o buscapé pode matar.

No céu, um espetáculo de encher os olhos. Na terra, uma aventura de espalhar fogo pelas ruas. No pilão, nitrato de potássio, enxofre e carvão: a fórmula da pólvora, descoberta por acaso na China há mais de dois mil anos. Até hoje ela é usada como receita indispensável nas festas nordestinas. Estância, em Sergipe, é a capital do buscapé e da espada de São João.

"O buscapé explode no final e a espada, não", explica o fabricante de fogos Adeílson da Conceição. Espada e buscapé, na verdade, são armas pirotécnicas fabricadas para a guerra dos fogos. A linha de montagem é artesanal. No oco do bambu, conhecido como taboca na região, vai o recheio explosivo.

"Não posso falar onde eu compro a pólvora. Na verdade, a gente compra o material", diz Adeílson. Além de pólvora, limalha de ferro: milhões de partículas de metal que dão a luminosidade. "Fazemos cerca de 1,5 mil espadas e até 4 mil buscapés", conta o fabricante.

Os depósitos funcionam no mesmo lugar da fabricação. É como se fossem pequenos paióis carregados de munição.

"Cada fogueteiro trabalha com uma tonelada de pólvora”, diz Adeílson. São 17 fogueteiros especializados em espadas e buscapés, totalizando 17 toneladas de pólvora. À noite, as batalhas incendeiam a cidade.

É um desafio arriscado entre o homem e o fogo. Só o barulho da pólvora queimando e da limalha de ferro assusta. Proteção? Quase nenhuma, só uma luva.

“Não tenho medo. Queima, mas não estoura”, diz o avicultor Ricardo dos Santos. “Já me queimei, mas a espada estava no chão.”

A coragem de muitos desses aventureiros acaba no hospital. Se a espada queima, o buscapé pode matar. Para quem não conhece, é difícil até identificá-los. "A diferença é que na hora do arrojo é preciso soltar o rojão porque ele vai explodir”, explica o ator Luiz Carlos di Santini.

Incontroláveis, avançam para todos os lados. Parece que ganham vida quando saem da mão. Brincar com essa arma não é para qualquer um. O que para alguns é medo, para essa turma, é alegria. Seria o balé do fogo?

Destemido, o funcionário público Valdivino Menezes domina três espadas de uma vez. Haja habilidade. Haja sorte para evitar uma tragédia. Ele fica no meio do fogo cruzado. "Graças a Deus, não estou queimado. Faço isso desde criança. Você só tem que olhar para a taboca. A faísca não queima, ela só sapeca", diz Valdivino.

Um comentário:

  1. Estância, em Sergipe, é a capital do buscapé e da espada de São João.

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